Deixo aqui mensagens e as minhas reflexões sobre os percursos por onde vou passando..."caminhante, não há caminho, o caminho faz-se caminhando..."
terça-feira, 6 de março de 2018
domingo, 4 de março de 2018
terça-feira, 27 de fevereiro de 2018
Pirata
Descalços invadimos o mar
Corremos na tua praia de risos
e de cócegas floridas
Braços abertos aos gritos:
À proa, à proa!
Corremos na tua praia de risos
e de cócegas floridas
Braços abertos aos gritos:
À proa, à proa!
Estavas do outro lado
Vinda do mar com algas
Espadas secretas
E correntes invisíveis
Vinda do mar com algas
Espadas secretas
E correntes invisíveis
Foi aqui que a batalha se deu
Feroz e silenciosa
Como um rio de águas doces
Feroz e silenciosa
Como um rio de águas doces
Rendes-te? Rendo...
Abraço-te!
Amo-te
MRodas
domingo, 25 de fevereiro de 2018
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018
Uma história de guerra em 500 palavras
Maria do Carmo
A minha avó sabia como ninguém, como eu gostava das
histórias trágicas.
- Conte aquela da guerra, avó!
Ela começava sempre assim:
Naquela aldeia havia dois rapazes que gostavam muito da
Maria do Carmo, o Manuel e o José. Ela gostava dos dois e
não se decidia a casar, até que uma noite, no regresso da romaria, quando os
sonhos são mais bonitos e as estrelas se deixam tocar com os lábios, o Manuel,
para a consolar disse-lhe: Não faz mal, eu caso contigo.
Quando se soube que eles iam casar, o José nunca mais foi o mesmo.
Triste, magro e desinteressado da vida.
Uns dias antes do casamento, o Manuel foi convocado para o serviço
militar. Ora, foi uma tristeza geral. Passado algum tempo, a Maria do Carmo
recebeu uma carta dum colega a dizer que o marido tinha desaparecido na batalha
de La Lys. Nunca mais recebeu carta nenhuma. À medida que o tempo ia passando
sem notícias do Manuel, melhoravam os dois: ela, porque julgando o marido morto, arregaçou
as mangas e se fez à vida novamente, e o José, porque podia finalmente
concretizar o seu amor. Toda aldeia concordava e incitava os dois a que se unissem e fossem felizes. Assim fizeram.
Corria a vida muito bem aos dois até que passados três anos, uma carta
anunciava o regresso do Manuel. Que o fosse esperar ao comboio a Braga.
Depois de aconselhada por toda a aldeia e pelo padre, a Maria do Carmo
foi a Braga. Recebeu o marido com preocupação e, sentados no muro em volta da
estação, contou-lhe tudo o que se tinha passado e agora não sabia como
resolver a situação. Choraram os dois
abraçados. Caiu-lhe ele dos braços, escorregou para o chão, estava morto.
Chamada a polícia e os bombeiros levaram o corpo para o Quartel de Braga,
apurou-se que tinha sido do coração a causa da morte, e voltou ela para casa,
muito desolada e triste, mas também esperançada que deste modo poderia
continuar a sua vida com José. Parece que Deus tinha resolvido as coisas, com
muita mágoa, mas enfim, poderia ainda acabar bem esta história.
Quando a Maria do Carmo chega a casa, julgando que o marido estava nos
campos, mete a chave na porta e vai ao
seu quarto para mudar de roupa e o que vê ela deitado na sua cama? O José, a
escorrer sangue ainda quente e com uma pistola na mão.
Ela cheia de dor, em cima de dor, rasga a blusa, pega na pistola ainda
fumegante e aponta-a ao peito.
- Espere,
avó, espere aí... só mais um bocadinho, que eu volto já!
Eu corria, corria pelos caminhos a combater inimigos imaginários e a adivinhar o
que se passaria a seguir.
- Conte aquela da guerra, avó!
- Logo, agora não!
O tempo correu muito depressa, a avó partiu e
ainda hoje não sei o que fez a Maria do Carmo com a pistola e com a sua vida!
Maldita guerra!
MRodas
quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018
A primeira guerra mundial faz cem anos
Em Portugal, a história dos prisioneiros da Primeira Guerra Mundial
reduz-se a números. E quase nada mais, como se o desejo declarado de alguns se tivesse concretizado:
“Corramos, porém, um véu bem espesso sobre esse cenário de horrores que foi a vida de fome, de miséria, de martírio, dos prisioneiros portugueses na Alemanha” MARTINS, Ferreira, 1935, Portugal na Grande Guerra, Lisboa, Ática, vol. II,
“Corramos, porém, um véu bem espesso sobre esse cenário de horrores que foi a vida de fome, de miséria, de martírio, dos prisioneiros portugueses na Alemanha” MARTINS, Ferreira, 1935, Portugal na Grande Guerra, Lisboa, Ática, vol. II,
https://www.youtube.com/watch?time_continue=9&v=gj2DelrQUJs
Voz de prisioneiro português na Primeira Guerra Mundial foi gravada no cativeiro
Letra da canção cantada por João Neves
As grades desta prisão,
Lá de fora metem medo.
Que fará quem está cá dentro,
A cumprir o seu degredo.
As cordas da minha guitarra
São de ouro acastanhado,
São cabelos que eu roubei
Das tranças da minha amada.
Na versão cantada, João Neves engana-se e substitui "grades" por "cordas". O sentido geral do poema e o queixume pela sua situação de prisioneiro mantêm-se, contudo, intactos.
As grades desta prisão,
Lá de fora metem medo.
Que fará quem está cá dentro,
A cumprir o seu degredo.
As cordas da minha guitarra
São de ouro acastanhado,
São cabelos que eu roubei
Das tranças da minha amada.
Na versão cantada, João Neves engana-se e substitui "grades" por "cordas". O sentido geral do poema e o queixume pela sua situação de prisioneiro mantêm-se, contudo, intactos.
quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018
A mulher dos seguros
É de névoa cor de rosa na secretária
branca mão no papel timbrado
Simula, simula
e ri-se
olha-me
como se fosse ontem
ou apenas mais um cifrão
a mulher cor de rosa
Mulher cor de rosa
não quero o seguro
quero arriscar
e perseguir o futuro
sem simulações
mulher cor de rosa
branca mão insegura
no papel acidentado...
MRodas
terça-feira, 6 de fevereiro de 2018
Uma porta travessa
Parava a cada palavra.
A mão escutava o ritmo cardíaco e...não se
decidia.
Por fim, a caneta deslizou numa valsa e
imaginou-a
como uma porta travessa que não se abria, nem
se fechava.
Nem tão pouco se mexia.
Ela era
antítese do prazer.
Amava-a.
Voltou a parar.
Cruzou as pernas, alisou o cabelo e continuou
a dança.
Só a transparência dela permitia que ele a
visse.
Sem fúria, atirou-lhe um banco e sorriu a ouvir o cair dos estilhaços.
O amor é fodido!
MRodas
A guerra
Saio de casa, sem vontade de olhar para trás.
Sei que hei de voltar, por isso, não me
despeço de ninguém.
Nem de nada.
Vou ali dar um recado, matar ou ser morto
nesta guerra – o que é a guerra?- mas voltarei.
Claro que levo o coração preso numa sombra
negra
e as pernas pesam com o receio de não saber
correr ou fugir.
Nasci em 1894 e tenho 22 anos.
Sei que voltarei para ti.
Levo o teu retrato.
Não precisava, mas tenho medo de ser gaseado e
perder a memória.
Se te perder que eu me encontre
e se eu não te encontrar, que tu não me percas.
Vou à guerra...matar e ser morto.
MRodas
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