domingo, 29 de outubro de 2017

As cadeiras

Diz

Nao sou cego, mas não vejo
Nao sou vejo, mas não cego
Nao  sou surdo, mas não ouço
Nao sou ouço, mas não surdo.

Diz
Se todas as cadeiras falassem
Ou escrevessem poemas
Teriam vendas
E ouvidos tapados
Para servirem
Os rabos que nelas se sentam.

Diz
Tambem
Me sento e não vejo 
Porque teimas em não ver
E não sentir o coração da vida.

Diz
Sou   livre
Nas costas rasas
na inquietação do meu eu sentado.

Diz

MRodas

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Lembras-te?

Quando íamos pelos montes
a procura do lobo mau
e da casinha de chocolate, 
meu feijoeiro gigante
capuchinho amarelo?

E quando chegamos a casa tontos de tanto rir
do vermelho dos medronhos?

Nesse tempo havia caçadores
mas não eramos nós...

MRodas

A pesca

Desde que aquele peixe foi empurrado para o anzol, nunca mais o homem deixou de pensar
Sou um grande pescador...
A quem convinha isso?

MRodas

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

O gato e o pau

A propósito da tragédia dos incendios florestais divido-me entre o choro, a indignação, o riso e o humor.

Este diz que a culpa é da ministra e do tempo

O secretário acusa os outros e o presidente

Os dois que a culpa é dos interesses e do tempo

Todos culpam o povo e as cidades

E o povo acusa todos e o tempo

Como se costuma dizer,

o gato ao rato,
o rato à corda,
a corda ao pau!

A morte e o fogo transpareceram as mentes


MRodas

As ideias e as palavras

As palavras soltaram-se das ideias e caminharam em direções diferentes.

As ideias seguindo seu caminho, sua evolução natural. Ora exaltando o real, ora desnudando-o em combinações hipoėticas e criativas.

Delas nasceram as religiões, as artes, a filosofia e o conhecimento científico.

Vieram as palavras
justapostas
fingidas
oferecendo-se servis
maleáveis
às vezes precisas.

Os religiosos pregaram

Os poetas e os artistas inventaram as mais belas obras

Os filósofos
viram mais um palmo à frente do nariz

E os cientistas
escreveram as mais originais dissertações

Só os politicos e os religiosos as manobraram de tal forma
que todos ficamos  confundidos. 

Era o que ele queriam
ser imprescindíveis!

MRodas

domingo, 22 de outubro de 2017

Para ti

Para ti
com o mais branco de linho
toalha, altar e cálice

Para ti
com o meu jeito
leve gesto de afago

Para ti
de mim
como eu sou
Sem que me possas ver...

MRodas

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

MOINHO na Amadora!

A nova expansão da Língua Portuguesa,

A nova expansão da Língua Portuguesa, segundo este Blog, Palavras a Solta, no último mês!

Visualizações de páginas por país 

Gráfico dos países mais populares entre os visitantes do blogue
EntradaVisualizações de páginas
Portugal
1491
Estados Unidos
475
França
310
Rússia
212
Canadá
53
Ucrânia
39
Andorra
37
Espanha
23
Brasil
22
Suíça
22



Guernica 3 D e o fogo


Esta vaga de incêndios trouxe-me à memória a célebre pintura de Picasso. 
Dolorosa a minha associação....

https://www.youtube.com/watch?time_continue=68&v=mj14pBzle8s

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

O moinho de vento I



Eleutério

Se havia um homem capaz de construir uma casa toda em pedra, em granito, de baixo até cima, esse homem era Eleutério, Lautério como lhe chamava o povo.
Desde as fundações, até ao telhado, parede por parede e divisão por divisão formava-se-lhe uma imagem na cabeça, só constituída por linhas e retas e depois era só segui-la. 
Claro que era preciso escolher a pedra, escolher o corte, e como caixas de fósforos montá-las umas sobre as outras, compondo num lado, rematando no outro e ajustando com a régua de madeira e o fio do prumo.
Mas não estava sozinho nessa tarefa. 
Os serviços florestais tinham contratado uma série de pedreiros e carpinteiros, ferreiros e duas cozinheiras, para construírem a casa de Adrão. Os primos Caturros tinham vindo com ele e dedicaram-se a fazer o carvão na serra. Subiam à floresta e desciam aos infernos a carbonizar os troncos de urze e giesta, soterrados por terra e pedras.
Já se tinha decidido o local onde iria ficar a casa, acima da aldeia, o distante necessário para que não existisse familiaridade com o povo e perto da serra para controlar a floresta e seus inimigos, os gados e os fogos e pior ainda, as pessoas. Para o engenheiro dos serviços florestais, todo o mal estava nas pessoas que não respeitavam, cortavam e abusavam da floresta.
O engenheiro mostrava os planos a Eleutério. Aqui a entrada, a cozinha, à esquerda as arrecadações e à direita um quarto. Em frente a casa de banho e outro quarto à direita e mais duas divisões à esquerda, um escritório e outro quarto de visitas. Portas e janelas e uma chaminé. O telhado viria mais tarde.
A partir daquele momento, o pedreiro gravava essa imagem da casa na sua mente, inventava uma história, imaginava a mulher do guarda na cozinha, o guarda no escritório e os filhos, uns a dormir nos quartos, alguém na casa de banho. Nas arrecadações guardavam alfaias e outros trastes necessários. Em volta da casa via as crianças a correrem e a brincarem.
Ele ainda não conhecia o guarda, mas imaginava-o. Também ele gostaria de ser guarda-florestal, se fosse mais novo, mas a vida não calhou. Por este meio, dando significado aqueles espaços desabitados, o desenho ganhava vida e dali até à casa erguida em pedra, era um salto na cabeça e muito trabalho nas mãos e braços e esforço no corpo todo.
Sim, fazer uma casa de raiz até ao teto, com tantas divisões, tudo a poder de braços não é obra para qualquer um. É preciso muito querer, muita vontade e fé.
Desde cedo começou a trabalhar com o pai e o avô nas pedras, na reconstrução duma igreja em Riba de Mouro, onde nascera, casas nas aldeias vizinhas e foi o guarda de Monção que o indicou ao engenheiro. E ele ali veio parar. A serra era a mesma, a serra de Soajo, apenas no lado oposto onde tinha nascido.
Os outros traziam as pedras ainda em bruto e ele com o martelo e ferro acabava-lhe os contornos, definia-lhe as feições e determinava o local onde iriam repousar. Na periferia da porta, nas agruras do vento norte, nos contrafortes do lado sul ou nos contornos da janela.


Era domingo e festa no Senhor da Paz, o padroeiro daquelas redondezas. 
Eleutério tinha desafiado a mulher e dois filhos a virem à festa. Já tinha sido a missa, procissão e rematação. Este ano o arraial estava abonado e os lances renderam bom dinheiro para o padroeiro. Tudo desapareceu, até uns tamancos e uma albarda dum burro que uma mulher ofereceu em paga duma promessa.
Algumas vacas já tinham sido transacionadas mas ainda faltavam umas três ou quatro que resistiam aos ânimos dos regatões e à desilusão dos donos. E duas éguas a quem o comprador tanto desejava, mas o dinheiro não crescia.

 Os habitantes levavam os convidados para almoçarem em suas casas; os outros romeiros estendiam as mantas à sombra dos carvalhos e depois de abrirem seus açafates, disfrutavam o que tinham trazido, ovos de cor castanha cozidos, com cebola, chouriço, presunto e galinha estufada. Tudo acompanhado com boa broa de milho e centeio e vinho da bota. 
Mais logo será o baile e os ajustes de contas, para quem tem contas atrasadas; o Senhor da Paz a todos ouvirá e neste terreiro se fará o que tiver de acontecer, gritos de mulheres, escaramuças e algumas cabeças rachadas, tudo fruto de amores contrariados e malquerenças de vizinhança por resolver.
José da Eira aproxima-se do grupo onde estava Eleutério e depois das apresentações iniciais e cordiais de quem está interessado numa aquisição, fica a saber que a Casa da Coroa, da Guarda Florestal está prestes a acabar. As suas artes de pedreiro afamado serão requisitadas para outras bandas, quem sabe pra Vila de Soajo ou arredores.
De pé, cabelo penteado ao lado esquerdo e cara lisa, brilhante do sabão da barba, encostado à sua vara de marmeleiro, conta José da Eira o seu projeto, um moinho de vento, redondo do cimo ao fundo, como naquelas redondezas nunca se vira antes. Dum lado estende-se a vista da Várzea à Peneda e ao Olelas. Do outro, Paradela e as serranias desde Espanha, Lindoso e Amarela até Viana. 
Será Eleutério homem para uma coisa igual?
De pé, com a mão esquerda caída e a direita a afagar as curvas dos queixos, o cabelo revolto, franze o sobrolho e vai dizendo para si próprio, 
é uma casa em redondo… espeto oito estacas no chão e faço um circulo. Se todas as pedras tiverem a mesma altura e largura só lhes acrescento a redondeza… e depois é subir por ali arriba, deixando espaço para uma porta e duas janelas.
Adivinhando-lhe os pensamentos acrescenta o outro,
 E escadas no interior para subir ao primeiro andar 
Claro, claro, diz Eleutério. Bem nunca fiz uma coisa assim, mas não sou homem para recuar. Sou de Riba de Mouro e não volto a cara a um desafio. Eu e os meus dois ajudantes faremos esse palácio.
Palácio? Bem, não é um palácio, é antes um mirante do palácio. O palácio é esta serra toda, cheia de verde, é este azul que nos protege, estes barrancos que nos escondem e revelam. A serra é o palácio onde sou mais livre e donde grito aos outros a alegria que tenho de estar vivo.
E o telhado?

O telhado fica por minha conta. Virá da Póvoa de Varzim, dizia o contratante, enquanto muda a vara de marmeleiro da mão esquerda para a mão direita e olha a serra, desde Outeiro Maior até à Cascalheira. Ainda não sabe, ou finge que não sabe, porque os mistérios da mente são difíceis de adivinhar, mas é na memória dos moinhos da Ajuda, em Lisboa que vai buscar todo esse encanto, essa fantasia prestes a tornar-se realidade. Um olhar que do alto da Ajuda sobrevoe Belém e atravesse o rio para a outra margem.

MRodas

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Dois filmes de Carlos Silveira


Deixo aqui dois filmes de Carlos Silveira. O primeiro mostrando uma interpretação original sobre as Mordomas, nas festas da Srª Agonia, em Viana do Castelo.
O segundo convida-nos  a um percurso mítico de Valença a São Tiago de Compostela. 
Atrás dos dois sempre a motivação religiosa e as possibilidades criativas da interpretação popular.

A exaltação das imagens através duma música exaltante obriga-nos a novas interpretações.
Obrigado, Carlos Silveira

  1. Vestidas de ouro


2. El Camino 
https://vimeo.com/236199602

Adeus

Tenho os pės doridos, os ramos partidos e as folhas arrancadas pela emergência dos dias burocratas

Tudo o que acreditei se esvai na seiva perfumada da madeira dura e...decepada

Despedi-me dos pássaros e insectos. Disse adeus às borboletas e ao riso das crianças. Não mais cães, não mais luar nas minhas filhas e raízes. Nem nas tuas. Não mais velhinhas à sombra, presas por um saber esperar, que só elas e eu sabemos

Ainda não vieste à janela e veres que fui, já não sou. Agora as primaveras serão iguais aos teus invernos. Eu jä lá não estarei para te fazer sorrir

Ainda acreditei em ti! Aguardava todos os dias que passasses ao fim do dia e voltava a ver-te todas as madrugadas. Sorrias e passavas a tua mão doce na minha pele

Nasceram filhos e a vida era uma promessa. Acreditei ser forte e feliz

Agora
morro nos dentes cruėis deste quotidiano  absurdo

apenas resta no ar, o perfume acre da minha seiva e da memória desenhada da nossa história, em cada anel, em redor do pescoço e do meu destino

Adeus

MRodas

domingo, 15 de outubro de 2017

As tuas cores

Vaporosa

Eram as cores
que se agarravam a ti
te seguiam teimosamenre
onde quer que fosses e seguisses

Mas era o amarelo e azul
que mais volteavam
te abraçavam e se misturavam
em todos os cambiantes e perfumes

Æs vezes beijava as cores
pensando que eras tu
dançava com elas
pensando que éramos nós

Era por isso que não tinhas ciûmes
vias tudo a preto e branco.

MRodas

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Alforreca



Vejo-te ao longe  e estremeço
és tu, a alforreca.
Vens dengosa, sem coluna vertebral
a sorrir um picadela
na brochura do teu braçal

Bates-me nas costas
e com um simples olhar 
tiras as medidas do teu engano
a calcular, o que podes ganhar

e eu sinto-me mercadoria
um valor desejado
que se não tenho cuidado
acabo a ti abraçado.


Vai, alforreca
vai para outro lado
deixa-me em paz
seguir o meu fado
enquanto escrevo,

A alforreca, aqui jaz!

MRodas

terça-feira, 10 de outubro de 2017

Partes de nós

Sou agora muitos
Tu ės concerteza outros tantos ou mais ... 
Qual parte do que somos
Ama a outra parte? E qual parte?

Quais as cores do meu caleidoscópio
Se sentem atraídas pelas tuas?
Quais as tuas cores que se querem diluir nas minhas?

E quando as tuas cores afastam as minhas que menos gostas
Ou as minhas recusam as tuas...
É nessa altura que chove
e a àgua fertiliza a terra
o rio lava as margens
e tu me prometes os beijos?

Ou sou eu que me refugio nas palavras
à procura da identidade que criou o nosso amor
e te afasta levemente a dizer, agora não...

Sei que é nessas alturas
que um de nós se esconde atrás das pedras
a rir
como nunca ninguém riu!

MRodas

Sou eu?


O amigo Carlos F. publicou numa rede social:
Adivinha quem vem jantar
MRodas, fotógrafo, romancista, amigo e sobretudo motard.

Foi preciso ele dizer isso para eu acordar para as minhas identidades.
São os outros que nos dizem quem amar
E nos recordam que somos mais que aquilo que julgamos ser.

Eu julgava ser professor
A minha filha apresenta-me como pai e a esposa como marido
E os irmåos, como irmåo
O vizinho como aquele que anda na vida dele.

São os outros que me constroem com as minhas novas identidades!
Para ser eu
Tenho de aproveitar as oportunidades que as circunstancias me vão dando...
E com isso em mente
Serei livre
Para ser o que quiser ser!

MRodas

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

O tempo

O tempo mudou muito

Agora em outubro
Vai se â praia
Depois das eleiçoes
Depois da Republica
E antes do congresso
Das oposições!

Quando chegarmos ao natal
Já vai haver sol para todos
E na páscoa
A UE decreta
Que a fome acabou
E os refugiados são pessoas como nós

Talvez lá pró verão a Catalunha tenha conquistado Madrid
Nessa altura
O Trump vai decretar
Que finalmente os EUA
Se mudam para América do Norte

O  Putin dá gelados
E o da Coreia do Norte vende pipocas


O tempo vai mudar, ai isso vai!

MRodas

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Breve

Vou

V o u
Folha
Gota
Agua
Rio
Viagem 

Nao chegar e nao partir
Evaporar-me
Secretamente
Numa particula qualquer
Até à não escrita
Não memória
Dissolver-me no tempo...
Voltar ao nada
Para voltar a ser

MRodas

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Caravana XVIII










Quando fomos atacados
Cada um disse o seu nome
Os atacantes não resistiram e fugiram todos

É a necessidade que nos move e empurra para a fala

MRodas